quarta-feira, 19 de setembro de 2018


A LEI INEXORÁVEL

Perdi o eixo
Perdi o eco
Perdi o prumo
Perdi a fala que deveria falar no palco desta vida.
Também, quem mandou você morrer...
Agora contemplo a minha mãe com dificuldades para encerrar sua missão.
Não sei até se vou primeiro, mas tenho medo.
A morte não manda aviso prévio, e ninguém sabe o seu momento.
Sou deprimida há quarenta anos.
Minha luta não tem sido fácil. Minha mãe não dá um passo sem o auxílio de acompanhantes. Certamente ela também vai para o céu.
O que farei eu sem os dois. Sei que toco a minha vida direitinho, mas não sei se aguentarei vê-la morta. Cometi muitos erros com ela, e não desconheço as nossas desavenças. Fico pensando em entrar no apartamento vazio, mas já ouvi profissionais dizerem: “Ligue a TV”, como se uma TV substituísse a presença da mãe.
Já foi cantado em verso e prosa, que é impossível ser feliz só. Deus que nunca me faltou, há de dar um jeito, por mais medo que eu tenha. Tenho muito tempo de análise, trato desse problema com vários psiquiatras e eu não sei, eu nunca saberei lidar com o fim de qualquer coisa, nem com o fim de uma rosa branca.
Comecei a frequentar o Freud Cidadão há mais de seis anos e meio, e me lembro que eu enchia  folhas de um monte de coisas alegres e pintava com o dedo indicador. Como seria bom se eu pudesse pintar também, deste jeito meu psiquê e a minha alma. É a maior Quimera que tenho na minha vida.


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Maria Helena Junqueira Reis, 
setembro de 2018.

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