A
LEI INEXORÁVEL
Perdi o eixo
Perdi o eco
Perdi o prumo
Perdi a fala que
deveria falar no palco desta vida.
Também, quem mandou
você morrer...
Agora contemplo a minha
mãe com dificuldades para encerrar sua missão.
Não sei até se vou
primeiro, mas tenho medo.
A morte não manda aviso
prévio, e ninguém sabe o seu momento.
Sou deprimida há
quarenta anos.
Minha luta não tem sido
fácil. Minha mãe não dá um passo sem o auxílio de acompanhantes. Certamente ela
também vai para o céu.
O que farei eu sem os
dois. Sei que toco a minha vida direitinho, mas não sei se aguentarei vê-la
morta. Cometi muitos erros com ela, e não desconheço as nossas desavenças. Fico
pensando em entrar no apartamento vazio, mas já ouvi profissionais dizerem:
“Ligue a TV”, como se uma TV substituísse a presença da mãe.
Já foi cantado em verso
e prosa, que é impossível ser feliz só. Deus que nunca me faltou, há de dar um
jeito, por mais medo que eu tenha. Tenho muito tempo de análise, trato desse
problema com vários psiquiatras e eu não sei, eu nunca saberei lidar com o fim
de qualquer coisa, nem com o fim de uma rosa branca.
Comecei a frequentar o
Freud Cidadão há mais de seis anos e meio, e me lembro que eu enchia folhas de um monte de coisas alegres e
pintava com o dedo indicador. Como seria bom se eu pudesse pintar também, deste
jeito meu psiquê e a minha alma. É a maior Quimera que tenho na minha vida.
Maria Helena Junqueira Reis,
setembro de 2018.