quarta-feira, 26 de março de 2014

A LUZ DE KEPLER

Há luzes que brilham nos céus, as de Kepler iluminam a história.


* * *


Johannes Kepler nasceu no dia 27 de dezembro de 1571 na cidade de Weil na Alemanha, entre a Floresta Negra, o Necker e o Rio Reno. A cidade era linda e tinha apenas duzentos habitantes.

A infância de Kepler, contudo não foi feliz. O pai, aventureiro e mercenário escapou por um milagre da forca. A mãe, Katarina foi criada por uma tia a quem, um dia, queimaram como bruxa. A própria mãe de Kepler foi acusada na velhice, de se ligar ao diabo e quase teve o mesmo fim.

Foi Johannes uma criança enferma. Nasceu com a vista defeituosa (péssimo para um futuro astrônomo).

Apenas dois fatos são lembrados por ele, com alegria, na infência: o cometa de 1577 e a eclipse da lua que parecia inteiramente vermelha. Mas tudo há compensações. As de Kepler foram as excepcionais facilidades de educação de seu país natal.

Primeiramente ele foi enviado a um seminário protestante para vir a ser um clérico.

A primeira coisa que ele percebeu foi imaginar a sua indignidade perante Deus. Arrependeu-se de tudo e quis obter a salvação.

O Deus de Kepler era o poder criado do cosmos.

Kepler estudou teologia, grego, latim, música e matemática. Depois de ler Euclides, chegou à conclusão: ela é o próprio Deus. Veio daí sua paixão inesgotável de procurar Deus na própria ciência, além de desejar tirar a Europa medieval, daquele tempo obscuro.

O currículo educacional possibilitara a ele perceber os primeiros sinais de mutação na história da ciência.

A compreensão dos movimentos do planeta, a procura de uma harmonia silenciosa dos céus, perdurou uma vida inteira. Ele se fixou na idéia dos cinco sólidos pitagóricos e ficou em êxtase durante uma aula que ele estava dando para poucos alunos desinteressados. Ficou muitos e muitos anos pesquisando o que ele denominou de "O Mistério Cósmico". Publicou livro com essa temática aos vinte e cinco anos. Vinte e cinco anos depois publicaria o mesmo livro depois de realizada a sua obra, ou seja, descobrimento das três leis básicas da astronomia, destruição do universo de Ptolomeu, criação dos alicerces da moderna cosmologia, basicamente.

A idéia do movimento dos planetas em órbitas circulares não dava certo. Johannes continuou em sua busca. Ele sabia que havia somente então um homem no mundo que tinha observações mais preciosas das posições planetárias aparentes: um nobre dinamarquês chamado Tycho Brahe. Kepler, sua esposa e enteada foram para Praga encontrar-se com o dinamarquês, mas as duas morreram na viagem vítimas de uma peste negra que assolava a Europa.

Numa noite Tycho Brahe exagerou da comida e dos vinhos e por outras complicações se viu no leito de morte. Segurava nas mãos de Kepler e repetia inúmeras vezes: "Por favor, não me deixe morrer sentindo que vivi em vão". Assim falou até morrer. Kepler continuou suas pesquisas e só muitos anos mais tarde concluiu que as órbitas não eram circulares, mas elipticas, codificadas pela primeira vez na biblioteca de Alexandria por Apolônio de Perga.

Através de suas descobertas, escrito aqui apenas por uma admiradora da história da ciência podem se resumir, nas três leis básicas da astronomia, as quais, em última análise, levaram o homem à Lua.

A história de Kepler não se resume apenas a isso, completo dizendo que apesar de tudo ele terminou sozinho fazendo horóscopos para reis. Antes de morrer fez o seu epitáfio que diz:

"Passei a vida medindo céus, agora meço as trevas.

Mas aqui jaz somente a sombra do corpo, o espírito é celeste".

Encontrei um epitáfio de anônimos desconhecidos da mesma época: "Quem ama estrelas na vida não tem medo da escuridão da noite".



Maria Helena Junqueira Reis


ORAÇÃO



          Tudo o que nos resta na vida é nos conformar.
          Abaixar nossos olhos a DEUS e pensar o tão misericordioso que ele é.
          Apesar do mundo tê-lo esquecido, ele nos ama ainda assim.
          Devemos dizer: sempre, obrigada, Senhor. Obrigada.

                                                                                 Maria Helena Junqueira Reis

quarta-feira, 19 de março de 2014

O SILÊNCIO DE CRISTO


"No princípio era o verbo".
São João não precisava dizer mais nada.
Este verbo é intransitivo.
Não precisa de complemento, ele fala por si só.
Também o tempo de Deus é outro, e não o nosso.
Nossa vida é um breve momento, e só.
Ele é quem sabe.
Conheci a Bíblia no colégio de freiras onde fui educada.
O Velho Testamento é de assustar.
Se você não crê em nada tente mudar, antes que Cristo fale.


Maria Helena Junqueira Reis
novembro de 2013

LIÇÃO DE VIDA

Olhem as formiguinhas... na sua pequenez, catam folhinhas, umas aqui, outras ali. Se por acaso alguém as matar, outras surgem fazendo o mesmo. Nunca pensem que as formiguinhas desistem quando estiverem diante dos problemas da vida. 

Se elas, dentro da sua pequenez, não desistem, por que é que nós, seres humanos, desistiríamos?

Não é uma questão absurda?

DESEJO

Eu sou do dia.
Ela é da noite.
O que é mais importante: contar estrelas ou dormir cedo para contar os passarinhos.
Queria muito ser um pássaro.
Eles não precisam de controlador de vôo, viajam quilômetros e quilômetros fugindo das intempérias.
Passarinho.
Isto é o que eu gostaria de ser.

Maria Helena Junqueira Reis

quarta-feira, 12 de março de 2014

A HORA E A VEZ DOS PASSARINHOS

     Detesto a noite. Prefiro dormir cedo e lá pelas tantas da matina ser acordada pelo canto dos pássaros.
     Eles começam a piar aos poucos e quando o sol, o astro rei, aparece, eles formam uma orquestra linda.
     Uma vez perguntei para algumas pessoas se achavam que passarinhos têm depressão.
     Eu acho que sim. À noite eles vão se recolhendo deixando a bagunça da cidade grande maluca para lá.
     O negócio deles é com aquele ar puro da manhã, antes que os doidos de jogar pedra acordem.
     São muito sabidos.
    Meu pai me contou, um dia, que o joão-de-barro faz a sua casinha com o cuidado de um engenheiro e deixam a janela e a porta abertas. Quando um passarinho preguiçoso e oportunista a invade, ele imediatamente tampa a porta e a janela com barro, e o invasor morre.
     Nossa, estou escutando o barulho de trem, carros e betoneiras.
     Que droga! O encanto acabou...
 
 
Maria Helena Junqueira Reis

MANIFESTO

  Às vezes não temos palavras para descrever o nosso vazio, ou mesmo o nosso nada. 
  Melhor não pensar sobre isso, antes que a vida nos engula.
  Muitas pessoas têm esperança no futuro, eu não. Pelo contrário, tenho medo. 
  Os belos tempos já se foram, talvez porque eu era uma criança e só me importava com bonecas e bolas de gude, nada mais. 
  Nós que temos sofrimento mental precisamos de ajuda. 
  Isso tudo implica também em ter dinheiro para tratar. Caso contrário ficaremos como os indigentes loucos, os loucos encarcerados nas prisões e os loucos dos manicômios judiciários.
  Os resultados destes tratamentos são fantásticos...
  Tenho dezenove anos de análise e o sofrimento mental volta.
  Quem são os culpados? Ninguém. Como ouvi uma vez de um profissional: "você pode ter sofrido horrores, mas o mundo não tem nada haver com isto".
  Perdi a esperança, perdi meu pai, mas alguém também me falou: "A dor de um filho o pai escuta a longa distância". 


Maria Helena Junqueira Reis

BRINCADEIRA

Maria Helena Junqueira Reis



    Minha casinha de infância se desprendeu do chão. 
    Cadê meu pai, minha mãe, meus irmãos.
    Minha casinha foi embora como uma bolha de sabão.
    Dizem que a vida segue uma lei. Que lei é essa que não posso revogar?   
    Fiquei sozinha com minha canequinha de água e sabão. Ninguém para brincar.
    Dizem que as pessoas grandes se preocupam com outras coisas sérias, mas eu insisto em brincar. 

A partícula de Deus

A PARTÍCULA DE DEUS
     Peter Higgs britânico e François Englert belga, ganharam o prêmio de Física de 2013 por terem inferido a existência do bóson de Higgs. Foram cinquenta e cinco anos de pesquisa.
     Uma das mais importantes descobertas da ciência desde a Teoria da Relatividade, de Albert Einstein.
     Para ateus e não ateus, deve ter sido algo bastante forte para suas mentes e seus corações. Também não sei se ateu é burro. Parto do princípio que isso agora é CIÊNCIA e não especulações advindas de religiões, crenças, ou seja lá o que for.
     O gênio tímido que dá nome ao bóson vive em apartamento simples, não usa computador ou celular e não possui sequer uma TV. Porém construíram um aparato de fazer inveja. Circunferência de vinte e sete quilômetros, e cinquenta metros a cento e setenta e cinco metros de profundidade em que está instalado. Vou me abster de outras explicações científicas, porque isso já foi provado e finalmente o Prêmio da Academia de Estocolmo não é dado para qualquer um, e eu não sou infelizmente física.
     Leio muita biografia de físicos e percebo que Deus só cochicha suas verdades mais puras em ouvidos também puros.
     Leia meu caro leitor biografias deste naipe e verão que não estou delirando.
     A descoberta da partícula divina foi meu presente de Natal antecipado, porque se há uma coisa que eu não duvido é da presença de Deus, no micro e no macro cosmos.
     Viva tudo o que há de bom nisso e se puder leia Blaise Pascal, o gênio francês, que morreu aos trinta e nove anos de idade, dizendo: "Que Deus não me abandone jamais".
Maria Helena Junqueira Reis
outubro de 2013

quarta-feira, 5 de março de 2014

Cotidiana Realidade

Perdi o eixo
Perdi o prumo
Perdi o eco.
Perdi o texto que deveria falar neste palco.
Me perdi.
Procuro a mim mesma de forma desesperada.
Acho que não fui uma pessoa.
Eu era um conjunto de sonhos e não de átomos.
Foi dessa primeira forma que amei.
Lavei o rosto, o coração e a mente.
A partir daí pude sentir algo que quase justificou a minha existência:
O intenso e o puro.
Bonita combinação, Harmonizar isso tudo com a realidade
Foi a perdição.
Queria ao menos ser poeta
Para conhecer palavras ou formas
Que fossem fiéis a isso tudo.
Aquela intensidade não tem nome
Não tem forma
Não é mensurável.
Como não é mensurável a dor que sinto agora.
O triste da vida é viver num quarto escuro e ser atingida de repente por um raio de luz.
Como viver no quarto de novo, sabendo que existe brilho lá fora?
O cotidiano escurece.
Levante-se, vá para o emprego, coma, durma, tenha filhos,
Desenvolva um “script” já testado.
Nunca perceba um raio de luz.
Se você tiver uma cotidiana realidade,
Sinta-se bem.
Não somos deuses em nada.
O amor intenso e puro pertence a Vênus
Um deus não experimenta a incompletude
Nem a dificuldade do cotidiano
Brinquei de ser deusa,
melhor, brincamos.
Foi tudo apenas um quase.
Voltei para o quarto escuro.
Devo criar vínculos com o cotidiano,
mas meu coração não quer mais.

Maria Helena Junqueira Reis

ELOGIO À VIDA

ELOGIO À VIDA


Antes de morrer quero ver o sol nascer muitas vezes. 
Também quero ver o gaturamo do qual meu pai tanto falava.
Antes de morrer quero abraçar todas as crianças do mundo, e ser mãe de todas elas. 
Antes de morrer não quero mais contemplar a escuridão da noite, porque como toda criança quero brincar e não dormir. 
Antes de morrer quero estar com Henri, muitas vezes, porque foi com ele que fiz uma aposta.
Aposta brilhante, porque ele me fez me deliciar com a luz. 
                                                                                                    
 Maria Helena Junqueira Reis

CIDADÃOS TRANSPARENTES



   Com o advento da informática no Brasil, lembro-me, quando eu era pesquisadora do CNPQ e li pelo menos cinquenta livros que pedi por carta, aos EUA, à Espanha, à Alemanha, à Argentina e artigos de revistas especializadas que me mandavam, dizendo todos: "Nós vamos nos tornar cidadãos transparentes". Isso foi no começo da década de 90.
    O Brasil só perdeu muito tempo, por causa da reserva de mercado implantada, e só tinha um braço da internet para fins de pesquisa. 
    A internet chegou mesmo, salvo engano, em 1994.
    Não consegui muita coisa no mundo acadêmico, porque falavam que aquilo tudo que eu dizia era do mundo jornalístico.
    Imagine só, falar de crime de informática, no ano de 1990 na Revista dos Tribunais, e em jornais de grandes circulação.
    Não me arrependo. Pelo menos a verba o CNPQ comigo foi bem gasta. Agora nos anos seguintes, só vejo acontecer tudo que li e escrevi. 
    Sei bem a razão, da adiada reforma das leis penais: não interessa a ninguém.
    Estão sempre se esquecendo da tipicidade e enquadrando tudo no estelionato, preferencialmente.
    Gostaria pelo menos que agravassem as penas destes crimes mas os legisladores não pensam assim.
    Vejo também que vem trabalhando bem a Polícia Federal, lacrando todos os computadores e coisas afins para investigação dos crimes. Há também muita gente boa de investigação fazendo o mesmo.
    Não nasci para ser advogada penalista, mas sim Promotora de Justiça. Por uma série de razões pessoais, não me tornei uma promotora. Sei que a atividade dos advogados criminalistas não combinam bem com meu sangue. Mas isso não é objeto preferencial do meu artigo.
    A transparência dos cidadãos é coisa mais grave. Li em um livro que com a internet é possível saber tudo de sua vida, até o nome do motel que você,eventualmente, queira frequentar.
    Crimes muito mais sérios, como narcotráfico, também não são feitos na ponta do lápis.
    Não sou contra a internet, apenas gostaria que se não fossem tipificados outros crimes como por ex. a calúnia, a injúria e a difamação, fossem aumentadas as penas, sem essa exagerada preocupação com os Direitos Humanos.
    O controle da internet é e será sempre, um mito, é como um representante dos órgãos de pesquisa do assunto dos Estados Unidos diz: "SEGURAR A INTERNET É COMO SEGURAR UMA REPRESA QUE ESTÁ PARA EXPLODIR COM UM DEDO".


Maria Helena Junqueira Reis

O MUNDO DO CÁLCULO E O MUNDO DA LITERATURA

Outra vez me lembro do meu pai. Meu pai dava aulas de cálculo numérico na Escola de Engenharia da UFMG, até se tornar diretor do Instituto de Ciências Exatas. Ele até falava que houve um filósofo que dizia: "Mulher tem cabeça só para carregar cabelo". Devo pedir desculpas a ele porque ele não está mais aqui para se defender.
   O mundo virou de pólo: antes a França berço da cultura, depois os Estados Unidos, na época da guerra. O que sobrou? Sobraram milhões e milhões de pessoas ligadas fielmente à tecnologia, que advém do cálculo.
    Pobre de mim. Dentro da minha infância, tendo como professor de matemática um expert em cálculo. 
   Salvou-me o mundo da literatura. Acho hoje que quase ninguém busca as obras do renascimento, não conhecem Hamlet, Cervantes, Dante, Camões e tantos outros escritores que preenchem a alma da gente.
   Digo aos meus eventuais leitores, leiam, leiam muito porque afinal de contas vocês ainda não viraram computadores.
    O mundo da literatura nos leva ao amor, o mundo do cálculo não nos dá nem sequer a solução exata da raiz quadrada de dois.


Maria Helena Junqueira Reis