sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O beijo que eu não te dei


                                              O beijo que eu não te dei


   Surpreendidos por alguém numa manhã clara de verão, deixamos de nos beijar.
   Parece um ato fortuito sem qualquer importância, mas mudou os rumos de nossas vidas.
   Hoje, com os devidos pseudônimos, posso contar. Ele Antônio e eu Maria. Lindos, lindos e jovens. Os olhos faiscavam e a vida beberrava nossa paixão instantânea, mas com o abrir da porta tudo cessou.
   Devo considerar que ele trabalhava com cadáveres e eu, sozinha no meu mundo rousseauniano.
   O que sobrou para mim foi o suficiente, mas a outra colecionou carros, mansões, euros e coisas do gênero.
   Parece mais feliz, mas eu não sei onde aperta o calo e nem se a grama dela é mais verdinha. O fato é que casei errado, busquei quarenta dois anos um verdadeiro amor, um amor que tonteia mais do que cachaça.
   Ficar também naquela fase sucessiva de fosse ou não fosse não da carreira certa.
    O melhor é esquecer o triste fim do Antônio e da Maria.


                                                           Maria Helena Junqueira
                                                                 Janeiro de 2016

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